O rei emérito de Espanha, Juan Carlos I, que abdicou em 2014 e foi protagonista da transição do país para a democracia, não estará nas celebrações oficiais dos 50 anos da sua coroação e do fim da ditadura.
A ausência de Juan Carlos de Borbón das celebrações previstas para 21 de novembro foi confirmada hoje pela Casa Real espanhola, liderada desde 2014 por Felipe VI.
Fontes da Casa Real lembraram que Juan Carlos I optou em 2020 por viver fora de Espanha, nos Emirados Árabes Unidos, e que o próprio decidiu então deixar também de participar em iniciativas públicas institucionais.
As mesmas fontes disseram que em 22 de novembro haverá porém um almoço privado no Palácio do Pardo, nos arredores de Madrid, com a família real, para o qual Juan Carlos I está convidado, embora não se saiba ainda se estará presente.
Na sequência da morte do ditador Francisco Franco, a 20 de novembro de 1975, Juan Carlos I foi coroado Rei de Espanha a 22 de novembro do mesmo ano.
O monarca recebeu então todos os poderes que tinha o ditador e acabou por se transformar, nos anos seguintes, num dos protagonistas da transição espanhola para a democracia, com a instauração em Espanha de uma monarquia parlamentar, tal como está estabelecido na atual Constituição, aprovada em 1978.
Os 50 anos da restauração da monarquia em Espanha e o papel que a instituição teve na democratização do país serão celebrados com um programa de iniciativas previstas para 21 e 22 de novembro divulgado hoje pela Casa Real e que inclui uma homenagem pública a Sofia de Borbón, mulher de Juan Carlos I, mãe de Felipe VI e hoje rainha emérita, que vive em Madrid, separada do marido.
Assim, no dia 21, Felipe VI entregará à mãe a mais alta condecoração concedida pela Coroa espanhola, o Toisón de Ouro, numa cerimónia no Palácio Real de Madrid.
Receberão a mesma condecoração e na mesma cerimónia o ex-primeiro-ministro Felipe González e dois dos 'pais da Constituição' de Espanha, Miquel Roca e Miguel Herrero y Rodríguez de Miñón.
Felipe VI anunciou em janeiro a concessão do Toisón de Ouro a Sofia de Borbón, para reconhecer publicamente a sua dedicação e entrega ao serviço de Espanha e da Coroa.
Nesta cerimónia de 21 de novembro estarão, além da família real, as altas autoridades do Estado e Felipe VI fará um discurso.
Para o mesmo dia está prevista outra iniciativa no parlamento espanhol com o título '50 anos depois: a Coroa no trânsito para a democracia', a que assistirão os atuais Reis, Felipe VI e Letizia, e as filhas, a princesa Leonor, herdeira da coroa, e infanta Sofia.
No dia seguinte, sábado, coincidindo com os 50 anos da coroação de Juan Carlos I, a família real celebrará um almoço no Palácio do Pardo com "caráter estritamente familiar e totalmente privado" a que Juan Carlos I poderá assistir, disseram as fontes da Casa Real.
Juan Carlos I abdicou e depois saiu de Espanha na sequência de revelações sobre a origem duvidosa da sua fortuna e a divulgação de episódios da vida privada que minaram a imagem de uma personalidade que durante décadas foi muito respeitada e de grande popularidade em Espanha, atendendo ao papel que se lhe reconhece durante a transição democrática, após o regime franquista (1975).
Os processos judiciais em Espanha que envolviam Juan Carlos de Borbón foram arquivados em 2022, apesar de o Ministério Público confirmar a existência de indícios de delitos fiscais, branqueamento de capitais e subornos.
No entanto, segundo o Ministério Público, vários possíveis crimes estavam prescritos e outros teriam sido cometidos quando Juan Carlos I era rei e, por isso, protegido pela "inviolabilidade" que lhe concedia a Constituição ao ser chefe de Estado.
Em janeiro, quando o Governo espanhol arrancou com um programa de 12 meses para comemorar os 50 da democracia no país, o executivo admitiu a presença de Juan Carlos de Borbón nas celebrações, mas remeteu sempre a decisão para a Casa Real.
"O gabinete da Presidência do Governo está em contacto permanente com a Casa Real [...] Aquilo que fizermos será acordado", disse a 08 de janeiro o ministro que tem a tutela da Memória Democrática, Ángel Victor Torres.
O ministro sublinhou que "o papel da Casa Real foi fundamental" nos "primeiros anos" da transição para a democracia, considerando que "por sorte" houve uma "aposta clara pela monarquia constitucional" e não ficou "tudo atado e bem atado" como pretendia o ditador Francisco Franco, por vontade de quem Juan Carlos I herdou todos os seus poderes em 1975.
Nos últimos dias, a propósito da publicação em breve de um livro de memórias, em França, Juan Carlos I concedeu algumas entrevistas a meios de comunicação social franceses em que reivindica o papel que teve na democratização de Espanha.
"A democracia não caiu do céu", disse o ex-monarca ao Le Fígaro.
O livro, com o título 'Reconciliação' e escrito com a autora francesa Laurence Debray, tem publicação prevista em França para o próximo dia 05 de novembro e em Espanha para o final do mesmo mês.

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