Mourinho em Conflito Constante Com Árbitros: Os Episódios Mais Memoráveis no Benfica



O regresso de José Mourinho a Portugal tem sido apimentado com as sucessivas críticas do agora treinador do Benfica ao trabalho dos árbitros. Após suceder a Bruno Lage, a meio do mês de setembro - depois do descalabro das águias frente ao Qarabag (2-3), na Liga dos Campeões - o Special one aceitou voltar a solo nacional e colocou o resto do mundo de olhos postos em Portugal. 


De repente, Mourinho e Benfica faziam manchete na imprensa internacional, uma vez que o badalado treinador de 62 anos tinha um novo desafio, voltando a uma casa na qual já estivera, 25 anos antes. 

Os resultados não estão, porém, a ser os melhores e José Mourinho tem 'disparado' para vários lados, sendo os árbitros um dos principais e recorrentes destinatários. 

A última conferência de imprensa, de rescaldo ao empate caseiro com o Casa Pia (2-2), que deixou o Benfica mais longe da liderança do campeonato, ocupada pelo FC Porto, trouxe à tona o novo 'ataque' de Mourinho contra a arbitragem. 

No entanto, esta relação de conflito começou bem antes e apenas pouco tempo depois de ter assumido o comando técnico das águias. Recuemos até lá. 

"Senhor da Cidade do Futebol"

Depois do embate frente ao Rio Ave, no qual o Benfica também tropeçou em casa com um golo nos descontos (1-1), Mourinho apontou o dedo ao "senhor da Cidade do Futebol", referindo-se diretamente ao VAR. Na origem das queixas estava o golo anulado a Sudakov, instantes antes do empate, por um "dedinho". 

"Se se anula um golo por um dedinho ter sido pisado ou uma camisolinha ter sido puxada, não gosto do futebol de hoje. O protagonista do jogo é o senhor que estava na Cidade do Futebol. Chamar o árbitro para ver o que todos vimos, e o árbitro não ter a personalidade para não ir na sequência do que o VAR diz", vincou Mourinho, na sala de imprensa do Estádio da Luz, a 23 de setembro. 

Estas críticas de Mourinho originaram, de resto, uma queixa da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), tendo o treinador português afirmado que "não disse nada de mal", até com uma promessa.

"Há uma coisa que eu tenho bem clara. Antes dos jogos, não falo de árbitros. Não tenho intenção de hostilizar, de criar antagonismo... Nunca o faço. (...) Se alguém me disser que não posso falar do árbitro, não falo. Se sentir liberdade de fazer o meu comentário ao jogo, que gosto de fazer normalmente, e dizer alguma coisa, tenho o maior prazer, até porque poderei ajudar em alguma coisa", explicou Mourinho, na antevisão ao jogo com o Gil Vicente, a 25 de setembro. 

A tranquilidade antes da tempestade 

O mês de outubro foi bem mais tranquilo, com Mourinho a optar por um discurso menos inflamado na hora de contestar as decisões do árbitro neste período. Entre vitórias no campeonato e na Taça da Liga, e derrotas que agravaram a situação do Benfica na Liga dos Campeões, o treinador natural de Setúbal voltou à carga apenas em novembro, ainda antes do Benfica entrar em campo, frente ao Bayer Leverkusen.

A UEFA decidiu nomear o árbitro italiano Simone Sozza, 'velho conhecido' de José Mourinho por conta de um polémico jogo entre Fenerbahçe e Lyon na Liga Europa, registado menos de um ano antes. Mourinho chegou a dizer que Sozza "não gostava dele" e depois da derrota do Benfica diante do conjunto alemão (0-1) foi mais longe, embora reconhecendo que não foi pelo juiz italiano que se verificou novo desaire europeu. 

"Os jogadores do Bayer Leverkusen fizeram o que os do Benfica também podem fazer. A culpa foi do árbitro, que permitiu que isso acontecesse. É um árbitro que eu conheço bem, que tem muito estilo, mas pouca qualidade. Mas não foi por ele que perdemos. Foi porque não fomos eficazes", lamentou Mourinho a 5 de novembro. 

Depois do apontar de dedo ao italiano Sozza, Mourinho voltou a centrar baterias para a arbitragem portuguesa, e 'explodiu', quatro dias depois, após o empate frente ao Casa Pia. 

Questionado sobre os motivos do novo tropeção dos encarnados no campeonato, o técnico português admitiu responsabilidades, mas não deixou de isentar os árbitros. 

"Culpa nossa, culpa do árbitro, culpa do VAR. Culpa do árbitro por assinalar uma grande penalidade que está tipificada pela UEFA, em todo o lado, como um não penálti. Um erro maior ainda do VAR que tem a missão de ajudar o árbitro a não cometer erros", começou por dizer Mourinho, acrescentando que estava a ser "simpático", antes de visar diretamente o VAR. 

"Gostava de perguntar ao VAR de hoje por que razão não interferiu [no lance da grande penalidade de António Silva]. A realidade é só uma. Nós pagámos nos pontos e houve outros que ganharam nos pontos. É assim que se ganham e perdem campeonatos", rematou Mourinho, a 9 de novembro, numa conferência de imprensa recheada de recados internos e externos. 

Estas declarações voltaram a colocar Portugal no mapa do futebol mundial, com a imprensa estrangeira a dar conta do "caos" instalado por Mourinho e da "caça às bruxas" promovida pelo carismático técnico luso. 

O que se segue?

Para já, Mourinho será obrigado a recuar nas críticas aos árbitros, até por conta da pausa internacional, imposta pelos compromissos das seleções.

O Benfica voltará a entrar em ação no dia 21 deste mês, contra o Atlético, na Taça de Portugal, seguindo-se um ciclo de jogos muito apertado que inclui deslocações aos redutos de Ajax, Sporting, Moreirense e Sp. Braga, para lá de uma receção ao Napoli.

Árbitros reagem hoje 

A arbitragem tem estado em foco no campeonato português, não só nos jogos do Benfica. O FC Porto também se juntou ao coro de críticas que se adensou no último fim de semana, com novos erros que motivaram muita polémica.

Nesse sentido, esta quarta-feira irá realizar-se uma conferência de imprensa na Cidade do Futebol, em Oeiras, que contará com a presença de Luciano Gonçalves, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, bem como de Duarte Gomes, antigo árbitro e atual diretor técnico para a Arbitragem.