Especialistas em saúde mental explicam como o Liverpool pode lidar com o luto da perda trágica de Diogo Jota e como o trauma afecta o balneário e o desempenho.
O Liverpool está de volta ao trabalho. Aquele que deveria ser um momento de alegria pelo facto de os jogadores do atual campeão inglês estarem novamente juntos transformou-se num mar de dor, marcado pela morte de Diogo Jota. O início do treinos está a levantar muitas dúvidas junto dos amantes do futebol, em especial dos adeptos dos reds. Qual será o impacto psicológico nos jogadores após a morte trágica de um amigo que era tão querido por todos? É isso que especialistas tentam explicar.
O Daily Star esteve à conversa com profissionais de saúde mental para tentar perceber o impacto da morte de Diogo Jota no plantel. E também a forma para os jogadores superarem este momento de dor. “A reação imediata dentro do equipa provavelmente misturará tristeza aguda com uma sensação de irrealidade”, começa por dizer Daniel Glazer, psicólogo clínico e fundado da UK Therapy Rooms. Que salienta que os jogadores profissionais vivem de rotinas previsíveis, que podem ser facilmente afetadas pela tragédia.
Diz o especialista que poderá destacar-se aquilo a que chama de culpa do sobrevivente. Em especial nos jogadores que estiveram com Digo Jota pouco antes da sua morte. Algo que resulta do facto de a mente começar à procura de explicações para uma tragédia que deixou o mundo em choque. Salienta a publicação que existem estudos que dão conta de que o luto traumático tende a estar associado a uma menor concentração. Algo que, no caso do futebol, se pode traduzir em erros nos treinos ou jogos nas primeiras semanas.
Dedicar a temporada a Diogo Jota
Daniel Glazer refere ainda que a época poderá ser dedicada a Digo Jota. “Muitos podem canalizar as suas emoções para uma narrativa coletiva, como dedicar a temporada a Jota, porque o propósito partilhado pode diminuir o isolamento e aumentar a libertação de ocitocina, fortalecendo assim os laços sociais. Atividades conjuntas, como comparecer ao funeral juntos ou criar um canto memorial no balneário, podem promover a sincronia entre os colegas de equipa. E essa sincronia pode estar relacionada a menores taxas de luto prolongado”, argumenta.
Stress agudo nos craques da equipa
Por sua vez, o psicólogo Ravi Gill alerta para eventuais casos de stress agudo. “Para aqueles que o conheceram de perto, a experiência pode levar a sintomas de stress agudo, dificuldade de concentração ou dormência emocional, especialmente quando tentam atuar em ambientes de alta pressão”, explica. “Clubes de futebol deste nível normalmente oferecem acesso a psicólogos desportivos e equipa de bem-estar internos, mas a aceitação depende da cultura”, acrescenta Sarah Boss, diretora clínica da The Balance Rehab. “Se houver permissão emocional, da liderança e dos colegas, para o luto, os jogadores são mais propensos a envolver-se. Em casos de perda traumática, a terapia pode ser oferecida pro-ativamente, especialmente se houver evidências de sono interrompido, distanciamento ou entorpecimento emocional”, prossegue.
Teste à dinâmica do balneário
Os especialistas defendem ainda que a dinâmica do balneário passará por um grande teste. Pois aos amigos de longa data de Diogo Jota juntam-se os reforços. Que chegam à equipa num momento de dor e luto. Jogadores como Florian Wirtz, Jeremie Frimpong e Milos Kerkez vão ter de tentar integrar-se num grupo de jogadores que chora a morte de um amigo. “Os novos jogadores enfrentam um desafio único: integrar-se a uma equipa emocionalmente ferida, enfrentando a dupla pressão de provar o seu valor e, ao mesmo tempo, respeitar um processo de luto do qual não participaram diretamente”, explica Ravi Gill. “Isso pode levar a sentimentos de isolamento ou hesitação, exigindo uma integração sensível e suporte de saúde mental adaptado tanto ao desempenho quanto ao bem-estar emocional”, refere.
Piadas podem deixar de existir no balneário
Além disso, existem coisas perfeitamente normais numa equipa de futebol que podem deixar de existir. Como é o caso de piadas no balneário ou treinos. “Podem evitar fazer piadas casuais por medo de parecerem insensíveis. O que pode retardar a sua integração social e afetar a confiança em campo. Atribuir a cada novato um mentor sénior é eficaz porque conversas guiadas esclarecem regras não escritas e dão permissão para expressar sentimentos sem medo de ultrapassar os limites”, realça o profissional de saúde.
“Os novos jogadores podem sentir-se emocionalmente desconectados da derrota, mas entrarão em um equipa em luto. Muitas vezes, há um peso invisível na sala. E eles podem sentir uma mudança no tom, no vínculo ou até mesmo na dinâmica de liderança. É importante que esses jogadores recebam empatia e orientação, não apenas integração tática”, conclui Sarah Boss.
Primeiro jogo após morte de Diogo Jota terá transmissão televisiva
Entretanto já estão esgotados os bilhetes para o jogo entre o Preston e o Liverpool. Aquele que será o primeiro após a morte de Diogo Jota. Os clubes decidiram avançar com a realização do encontro. E o Preston está já em conversações com as autoridades para encontrar a melhor forma de homenagear o internacional português. Está também assegurada a transmissão televisiva.
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