Maputo — Centenas de doentes com cancro em Moçambique estão sem acesso a tratamento há mais de seis meses devido à avaria da única máquina de radioterapia existente no país. A falta de resposta das autoridades de saúde agrava a situação, deixando pacientes e familiares à mercê do tempo e da evolução da doença.
A máquina, localizada no Hospital Central de Maputo, está inoperacional desde finais de 2024. Desde então, pacientes diagnosticados com diversos tipos de cancro têm visto os seus quadros clínicos agravarem-se, enquanto aguardam por uma solução que não chega.
“Estamos sem esperança. Não há respostas, não há prazos, e as pessoas estão a sofrer”, lamenta Maria (nome fictício), cuja irmã foi diagnosticada com cancro do colo do útero e aguarda tratamento desde novembro do ano passado.
Silêncio das Autoridades e Crescente Desespero
Até ao momento, o Ministério da Saúde não forneceu qualquer informação oficial sobre os motivos da demora na reparação ou substituição do equipamento. Também não há, até agora, um plano de contingência anunciado para atender os pacientes que dependem do tratamento.
Nos corredores do Hospital Central, o clima é de tensão e frustração. “Estamos a ver os nossos pacientes morrerem lentamente. Alguns já poderiam ter tido bons prognósticos, mas agora estão em fase terminal”, relata um profissional de saúde que preferiu manter o anonimato.
Tratamento no Exterior: Alternativa Para Poucos
Com a máquina avariada, resta aos doentes a opção de procurar tratamento fora do país — uma solução dispendiosa e inacessível para a maioria da população moçambicana.
“A única alternativa que nos foi dada foi procurar ajuda fora. Mas como? Onde vamos buscar dinheiro para isso?”, questiona um familiar de um doente oncológico da cidade da Beira.
Organizações da sociedade civil e associações de apoio a doentes com cancro alertam para a falta de equidade no acesso à saúde. “É uma crise humanitária silenciosa. Estamos a assistir a uma violação do direito à vida”, afirma Lina Chongo, ativista na área da saúde.
Crise que Pede Respostas
Especialistas apontam que a situação atual expõe fragilidades estruturais do sistema nacional de saúde e reforça a urgência de investimentos em equipamentos e manutenção preventiva.
“Não se pode depender de uma única máquina para atender todo o país. O Estado deve garantir redundância e capacidade de resposta”, alerta o médico oncologista José Gove.
Enquanto o impasse persiste, pacientes oncológicos continuam numa corrida contra o tempo. Alguns já abandonaram o tratamento, outros seguem em listas de espera sem qualquer previsão de atendimento.
Conclusão
A avaria da única máquina de radioterapia em Moçambique não é apenas um problema técnico — é um retrato dramático da negligência institucional diante de uma doença que exige respostas rápidas e humanas. O silêncio das autoridades torna-se, dia após dia, cúmplice de um sofrimento que já se prolonga por tempo demais.
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