Fátima Mimbire reagiu, na sua conta oficial do Facebook, ao informe dirigido à nação pelo Presidente da República, Daniel Chapo, manifestando preocupação com o conteúdo, o tom e as omissões do discurso presidencial.
Na sua análise, Mimbire afirma ter ouvido atentamente a comunicação do Chefe do Estado e lido o respectivo informe, sublinhando que vários aspectos lhe chamaram a atenção. Um dos primeiros pontos levantados diz respeito ao parágrafo em que o Presidente afirma que, apesar de “tentativas de paralisar o País, instalar o caos e semear a anarquia”, Moçambique se manteve firme e resiliente. Para Mimbire, a declaração carece de clareza, questionando a quem o Presidente se refere concretamente.
Segundo Mimbire, ao analisar os acontecimentos recentes, incluindo o processo eleitoral, conclui-se que houve “alta traição ao Estado” e uma tentativa orquestrada de alterar a ordem constitucional. Mimbire considera igualmente contraditório que o discurso ignore a situação de insegurança em Cabo Delgado, onde, há cerca de oito anos, a violência armada tem causado caos, anarquia e atrasos significativos em projectos estruturantes de desenvolvimento.
Relativamente às manifestações, Mimbire critica o que descreve como uma abordagem repetida e intencional do Presidente focada nas consequências, ignorando as causas. Sustenta que os protestos tiveram origem em alegadas fraudes eleitorais e que, segundo a sua leitura, não foram iniciados com violência pelos manifestantes. Ela aponta ainda para episódios de alegada violência policial, referindo que existem imagens públicas que mostram agentes do Estado a instigar confrontos, sem que tais situações tenham sido reconhecidas no discurso presidencial.
Outro ponto destacado é a distinção feita entre “povo” e “manifestantes”. Para Mimbire, esta diferenciação é “divisionista”, defendendo que os cidadãos que se manifestaram também fazem parte do povo moçambicano e são igualmente destinatários dos investimentos públicos. Na sua opinião, os protestos representaram uma das poucas formas encontradas pela população para ser ouvida, num contexto que descreve como uma crise de representação política.
Mimbire critica ainda o que classifica como um discurso triunfalista, sustentado, segundo ela, por “meias verdades”. Como exemplo, aponta a situação da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), afirmando que a empresa continua a enfrentar sérios problemas operacionais, com passageiros retidos por longos períodos, em contraste com a imagem de recuperação transmitida pelo Presidente. Questiona também as declarações sobre a distribuição de manuais escolares, defendendo que a entrega de pelo menos um livro por aluno não garante, por si só, um acesso completo e digno ao material necessário para o ensino.
No capítulo da luta contra a corrupção, Mimbire manifesta cepticismo em relação à afirmação presidencial de que hoje existe mais medo de cometer actos ilícitos. Questiona a base factual dessa declaração, referindo a persistência de práticas corruptas em vários sectores, incluindo na polícia, nos transportes e na gestão pública, sem consequências visíveis para os infractores.
Sobre a suspensão das actividades mineiras na província de Manica, anunciada como uma medida para travar a degradação ambiental, Mimbire considera contraditório que o Governo tenha posteriormente levantado a suspensão para algumas empresas. Questiona a transparência do processo e se as entidades autorizadas a retomar operações cumprem efectivamente a lei, defendendo que o Presidente perdeu a oportunidade de esclarecer melhor o assunto.
Fátima Mimbire aborda ainda a questão dos chamados funcionários “fantasmas”, reconhecendo a importância da identificação de registos suspeitos, mas questionando a ausência de informações sobre a responsabilização dos agentes que introduzem ou mantêm esses nomes no sistema de pagamentos do Estado.
No que respeita ao combate ao terrorismo em Cabo Delgado, Mimbire considera a informação prestada pelo Presidente “rasa e superficial”, defendendo que o Chefe do Estado deveria ter explicado de forma mais detalhada o papel das forças do Ruanda em Moçambique, bem como a duração e os termos dessa presença, sobretudo após a assinatura do Estatuto das Forças (SOFA).
Na parte final da sua reflexão, Fátima Mimbire concorda que a paz, a unidade, a justiça e a estabilidade são fundamentais para o desenvolvimento do país, mas sustenta que a instabilidade actual resulta, em grande medida, da governação da Frelimo. Afirma que os principais desafios nacionais — como a pobreza, o desemprego, o défice habitacional, as falhas nos transportes públicos e a criminalidade — só poderão ser enfrentados com verdade, transparência e responsabilização efectiva.
“Sem verdade, não vamos longe”, conclui Mimbire na sua publicação.

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