Miss Universo Portugal Camila Vitorino Denuncia Injustiças e Pressão na Competição: "Clima de Medo e Incerteza"




A mais recente edição do concurso de beleza Miss Universo, que decorreu neste mês de novembro na Tailândia, deu, de facto, muito que falar. A competição, que reúne anualmente candidatas de várias nações de todo o mundo, ficou marcada por bastantes polémicas nos bastidores, algumas quedas graves e, agora, pelo relato da representante portuguesa, Camila Vitorino, que decidiu denunciar as injustiças que sentiu durante a sua participação.


Através de uma partilha nas suas redes sociais, a candidata lusa, que se destacou na prova do traje tradicional do concurso com uma homenagem a Celeste Caeiro, a mulher que tornou o cravo símbolo da revolução do 25 de abril de 1974, emitiu um comunicado e não deixou nada por dizer. As suas palavras foram, inclusive, traduzidas para inglês e espanhol de forma a que pudessem chegar ao maior número de pessoas.


"Eu sou, por natureza, alguém que escolhe o silêncio. Não porque duvido do poder da minha voz, mas porque sempre acreditei que as ações falam mais do que as palavras. No entanto, à luz dos acontecimentos recentes, sinto-me obrigada a falar, não para me justificar, mas para proteger o que é legitimamente meu: a minha integridade", começou por escrever Camila Vitorino. Mas não se ficou, naturalmente, por aí.


Justificando-se, deixou a certeza que o seu "comportamento ao longa da competição […] foi exemplar", nunca tendo feito "ninguém esperar" a cada vez que Portugal era chamado "durante os ensaios". "Cumpri todos os pedidos, mesmo em momentos cheios de incertezas e esse compromisso foi reconhecido vários vezes pelos membros da organização", continuou a sua intervenção a jovem, denunciando de seguida rumores que chegou a ouvir a seu respeito.


"Ouvi especulações de que a minha entrevista pode não ter sido forte. Essa perceção pode derivar do facto de que o tema principal era a maternidade. Mesmo assim, esforcei-me para destacar outros valores compartilhando a minha jornada pessoal e o meu projeto social, embora sinta que esses aspetos não receberam muito peso. Dentro do tema que me foi apresentado, acredito que a entrevista correu bem, pois pude articular claramente os valores profundos que o casamento e a maternidade trouxeram para a minha vida, valores que carrego com orgulho".

De notar que Camila Vitorino escreveu, ao tornar-se Miss Universo Portugal, uma nova página na história dos concursos de beleza no país, isto porque pela primeira vez foi eleita uma mulher casada e com um filho. Estas duas caraterísticas suas terão levado a representante a mostrar-se indignada perante um determinado episódio que testemunhou durante a sua participação e que a terá deixado absolutamente incrédula.




"Quero destacar um momento em específico em que soube que a minha jornada havia chegado ao fim. Durante uma conversa entre a organização e as competidoras, foi dito que a rainha reinante não tinha namorado porque não havia tempo, que o seu compromisso era a comunidade, o seu 'casamento' era com o projeto. O meu coração acelerou. Eu congelei. Olhei em volta, esperando ter entendido mal", descreveu o momento Camila Vitorino.


Assim como ela, as representantes de outros países que eram "casadas" ou estavam em relacionamentos, tal como a candidata portuguesa terão ficado, segundo as palavras de Camila Vitorino, "visivelmente magoadas". Como forma de mostrar que manteve os seus valores, a competidora lusa confessou ter escolhido, até ao fim do concurso, "a fé" e a vontade de "demonstrar" o que realmente a guia.


"O casamento ensinou-me o verdadeiro compromisso: com outra pessoa, com um propósito, com uma organização. A maternidade ensinou-me resistência e deu um significado real aos meus objetivos. A minha participação no palco global nunca foi apenas sobre realizar um sonho pessoal. Tratava-se de representar todas as meninas que sonham em começar uma família e também sonham em tornarem-se rainhas de beleza", desabafou.





"Para aqueles que, como eu, cresceram sem entender o que uma família realmente significa, quero que saibam: podem ser os dois. Porque nós, como mulheres, somos inegavelmente poderosas. Continuarei a viver cada dia comprometida com esta missão. Continuarei a defender esses valores. Porque eu acredito neles. E porque a minha verdade não requer validação daqueles que não a veem", acrescentou ainda.


Neste comunicado, Camila Vitorino endereçou ainda uma mensagem especialmente focada nas "mulheres, mães, esposas e meninas que sonham": "Nunca permitam que ninguém o confina. Nunca aceitem que lhe digam que vocês devem escolher entre o amor e a ambição, entre a família e o palco, entre quem tu és e quem aspiras ser. A tua força é ilimitada. Tu és incomparável. E o mundo precisa da tua autenticidade, agora mais do que nunca. O futuro pertence às mulheres que se atrevem a acreditar em si mesmas".


De destacar também que durante a sua intervenção publicada nas redes sociais, a representante portuguesa afirmou, sem 'papas na língua', que neste momento já não se sente "representada pelos princípios que a organização Miss Universo escolhe defender". "Acho profundamente injusto culpar o comportamento de 120 candidatos que suportaram 20 dias de incerteza, pressão e, às vezes, até medo", denunciou ainda.