O rei emérito Juan Carlos falou, pela primeira vez, sobre o fatídico dia em que disparou uma arma que acabou por atingir o seu irmão mais novo, Alfonso, levando à sua morte.
Este relato está presente no livro de memórias 'Reconciliação', que o monarca escreveu em conjunto com a jornalista francesa Laurence Debray e que saiu para as bancas esta quinta-feira, 6 de novembro, em França.
O acidente, que ocorreu em 1956, é um tema muito sensível para o monarca que explica que "não gosta de falar sobre o assunto".
Afinal, como é que tudo aconteceu?
Juan Carlos revela que os dois irmãos estavam "a brincar" com uma pistola quando o acidente aconteceu na casa da família em Portugal.
"Não me recuperarei desta tragédia. A sua gravidade vai acompanhar-me para sempre. Tínhamos retirado o cartucho. Não fazíamos ideia de que ainda havia uma bala na arma", explicou o rei num capítulo de apenas duas páginas intitulado 'A tragédia'.
"Foi disparado um tiro para o ar, a bala fez ricochete e atingiu o meu irmão diretamente na testa. Ele morreu nos braços do nosso pai", explicou ainda Juan Carlos que, à época da tragédia, tinha 18 anos.
Na altura não existiu um inquérito judicial que apurasse as circunstâncias da morte do jovem Alfonso que tinha apenas 14 anos. Os dois estavam a brincar num quarto sozinhos e nunca ficou esclarecido como tudo aconteceu.
Uma das costureiras da mãe do rei emérito, María de las Mercedes, referiu na altura que acreditava que este tinha apontado a pistola a Alfonso e que tinha disparado sem perceber que a arma estaria carregada.
O pai do monarca, João, conde de Barcelona, teria agarrado o filho mais velho pelo pescoço fazendo-o jurar "que não teria feito de propósito".
Ainda neste capítulo do livro, Juan Carlos explica que o seu pai tapou o corpo do filho com uma bandeira espanhola e, mais tarde, atirou a pistola ao mar.
Já o rei emérito voltou para a academia militar e a sua relação com o progenitor nunca mais foi a mesma.
"Ainda é difícil para mim falar sobre isto, e penso nisto todos os dias... Sinto a falta dele, gostaria de tê-lo ao meu lado e de conversar com ele. Perdi um amigo, um confidente. Ele deixou-me com um vazio imenso. Sem a sua morte, a minha vida teria sido menos sombria, menos infeliz", refere ainda o pai de Felipe VI.
Este livro, dividido em sete partes, será publicado em espanhol em dezembro deste ano, no 50.º aniversário da morte de Francisco Franco e da restauração da monarquia.

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