Um Fundo Soberanamente Roubado: 33 Milhões Desviados e o Silêncio dos Cúmplices



Por Augusto Pelembe

Soube hoje, através do Semanário Evidências, que o Governo confirmou o desvio de 33 milhões de dólares do Fundo Soberano de Moçambique — um escândalo de dimensão colossal.

O alerta já havia sido feito pelo Tribunal Administrativo, aquando da apresentação da Conta Geral do Estado de 2023, onde se mencionavam “discrepâncias” nas contas públicas. Agora, essas discrepâncias têm nome, valor e vergonha.

Fica claro que os recursos provenientes da exploração do gás natural — que deviam representar uma promessa de desenvolvimento e prosperidade para o povo moçambicano — estão a ser dilapidados pelos mesmos de sempre: os que transformaram o Estado num balcão privado de saque.

E tudo isto decorre sob o olhar sereno do governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, apelidado, com ironia, de “xerife”. Um xerife que, em vez de fazer cumprir a lei, parece assistir, impassível, ao faroeste da corrupção.

A revelação deste desvio surge apenas uma semana após a realização da Primeira Conferência Nacional sobre o Combate à Corrupção, promovida pela Procuradoria-Geral da República. A coincidência é, no mínimo, simbólica — e cruel.

O Procurador-Geral, Américo Letela, tem agora a oportunidade de demonstrar que o evento, custeado com verbas públicas, não foi apenas mais um exercício de retórica política. Se o Ministério Público pretende realmente recuperar a confiança dos cidadãos, este é o momento de agir.

O desvio de 33 milhões de dólares não é uma simples irregularidade contabilística — é uma sentença sobre o destino de um país onde a impunidade se institucionalizou. Enquanto a maioria luta diariamente por pão, saúde e emprego, uma elite sem escrúpulos continua a sugar o que resta da dignidade nacional.

E o mais preocupante: já ninguém parece indignar-se.

A corrupção deixou de ser exceção — tornou-se sistema.

E, enquanto não houver prisões, restituições e vergonha, o Fundo Soberano continuará a ser apenas isso: um fundo soberanamente roubado.