A médica Samira Mendes Khouri, de 27 anos, tomou uma decisão simbólica para deixar no passado o relacionamento que quase lhe custou a vida. Após ser espancada pelo ex-namorado, o fisiculturista Pedro Camilo Garcia, em julho deste ano, ela cobriu as tatuagens que tinha em homenagem a ele.
O nome de Pedro e um beijo gravados no braço, feitos por imposição dele como “prova de amor”, deram lugar a uma borboleta e flores, criadas por uma tatuadora que se ofereceu para realizar o trabalho sem cobrar.
“Eu nunca tive dúvidas que eu queria fazer alguma coisa com essa tatuagem, não sei, remover ou tampar e cobrir. Eu via o ‘Pedro’, já começava a me dar ansiedade”, contou Samira, em entrevista.
O relacionamento, que durou dois anos, foi marcado por ciúmes excessivos. Segundo a médica, o ex nunca havia agredido fisicamente antes, mas descontava sua raiva em socos no volante, em paredes e em discussões provocadas por situações cotidianas, como conversas com professores de academia ou olhares de desconhecidos na rua.
“Tudo que eu fazia era com ele. Se a gente fosse para a academia e algum personal falasse comigo, aí pronto, eu sabia que a culpa ia ser minha porque eu que dei autorização para o personal vir falar comigo. Às vezes a gente ia para barzinho e tinha que ir embora porque ele tava com ciúmes de alguém que tava olhando para mim”, relatou.
A violência ocorreu no apartamento de Samira, em Moema, na zona sul de São Paulo. Durante cerca de seis minutos, ela foi agredida até ficar desacordada. Vizinhos chamaram a Polícia Militar, que arrombou a porta e encontrou a médica caída, desfigurada e coberta de sangue. O ataque deixou fraturas no rosto, nos olhos, na arcada dentária e nos seios da face. Samira passou dias na UTI e foi submetida a várias cirurgias.
“O que me salvou foi a polícia. Cheguei no hospital com as plaquetas em 80 mil, quando o normal é 450 mil. Se ninguém tivesse chamado, eu já ia estar morta”, disse.
Réu por tentativa de feminicídio
Pedro Camilo Garcia foi denunciado pelo Ministério Público e se tornou réu por tentativa de feminicídio no dia 1º de agosto. Ele foi preso em Santos, no litoral paulista, em 14 de julho, após fugir do prédio onde ocorreu a agressão. Câmeras de segurança registraram sua saída às 4h29 da manhã, pelas escadas, carregando objetos.
Ao ser capturado, o suspeito alegou que teria agido por ciúmes depois de ver mensagens no celular da médica. Samira, no entanto, nega a versão: o aparelho estava com ele há três dias porque o dela havia quebrado. “Ele ficou com o meu celular, não tinha como eu ter feito isso porque o meu celular era dele”, afirmou.
Mesmo em recuperação física e emocional, a médica tenta reconstruir a própria vida. As marcas no corpo deram lugar a símbolos de liberdade. Já as cicatrizes emocionais seguem como lembrança do relacionamento que ela hoje define em uma única palavra: “monstro”.
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