O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) ouviu, hoje, o Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) a fim de colher esclarecimentos adicionais sobre o assassinato do advogado, Elvino Dias, e do activista político, Paulo Guambe.
Conforme avançou o Director-Geral do CDD, Adriano Nuvunga, a presença da Organização Não Governamental (ONG) foi na qualidade de denunciante. E, como tal, defendeu a audição na justiça das pessoas que proferiram mensagens suspeitas na véspera do duplo homicídio a 18 de Outubro e 2024. “Essas pessoas são hoje deputados da Assembleia da República. Essas pessoas devem ser consideradas”.
Para o activista social, no processo em curso, além das pessoas que fizeram circular, nas redes sociais, mensagens desejando a morte do advogado Elvino Dias, deve igualmente ser presente aos órgãos de justiça o antigo Presidente da República, Filipe Nyusi.
“Mas não somente isso. O antigo Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, ele disse que na sociedade havia um barulho e que era preciso fazer outro barulho para acabar com aquele barulho. Estas palavras de Filipe Nyusi não podem ser deixadas assim. A investigação tem que ser compreensiva. Todos aqueles que fizeram pronunciamentos que levassem a suspeitar de que estivessem a insinuar ou, provavelmente a dar ordens, assim, disfarçadas, que devem ser considerados. É isso que viemos aqui dizer ao SERNIC hoje” disse.
À data do duplo homicídio, o advogado trabalhava nos processos de denúncias de fraudes eleitorais que, supostamente, comprovavam a vitória de Venâncio Mondlane, nas eleições presidências de 9 de Outubro.
Recorde-se que, a 8 de Janeiro, o CDD submeteu uma denúncia à Procuradoria-Geral da República sobre o assassinato, referindo que os assassinos eram dois reclusos da Cadeia Civil, na cidade de Maputo. Segundo a Organização, dias antes do crime, os suspeitos tinham sido retirados da Cadeia sob o pretexto de ir à machamba, às ordens do Chefe do Departamento de Operações Penitenciárias.
Já em Abril passado, a Organização apresentou mais elementos de provas do crime. Em Junho, exigiu à PGR uma “acção urgente” para travar a destruição de provas na Cadeia Civil.
Falando hoje a jornalistas, Nuvunga referiu existir uma onda de intimidação das pessoas que teriam fornecido as informações sobre o roteiro do duplo homicídio.
Por outro lado, lamentou a morosidade do processo, mas disse haver aparente empenho e interesse do SERNIC em organizar e investigar o processo.
“Pode ser que ao nível mais alto não haja vontade política para isso. Mas esse é o nosso trabalho como sociedade civil, de fazer pressão, todos os dias, para que este assunto seja levado com a seriedade e a urgência que ele requer para que se faça justiça” disse.
O processo ainda deverá ser encaminhado para o Ministério Público, que deverá fazer a acusação e submeter ao tribunal. A expectativa do CDD é que tal ocorra ainda este semestre. “Os elementos estão ali… [mas], a nível maior, parece que há pessoas que não querem que o processo ande”.
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