Frelimo Pede Ajuda a Farmácia para Financiar Festas do Dia da Independência em Erati



Partido no poder envia carta a farmácia exigindo apoio financeiro e gêneros alimentares, usando o nome do Presidente Chapo.


O Comité Distrital da FRELIMO no distrito de Eráti decidiu inovar. Em vez de promover uma campanha de angariação de fundos transparente e voluntária para comemorar os 50 anos da independência de Moçambique, optou por uma abordagem menos democrática — envie uma carta à Farmácia Filhos, localizada em Namapa, solicitando (ou melhor, exigindo ) apoio em dinheiro e alimentos .


O mais insólito? A carta não partiu de um ministério, nem da comissão oficial de organização das celebrações. Foi assinada pelo Departamento de Administração e Finanças do Comité Distrital da FRELIMO e justificada com base no "apelo à união" lançado pelo Presidente da República, Daniel Francisco Chapo.



Sim, leu bem: o partido FRELIMO está a usar o nome do Chefe de Estado para pedir dinheiro e comida a uma farmácia. Se isso é “união nacional”, então estamos diante de uma união… reforçada.


Quando um pedido é tudo menos voluntário

“Vimos por este meio pedir a essa Entidade Patronal apoio em dinheiro ou géneros alimentares até dia 18 de Junho para fazer face às cerimónias.”

— lê-se na carta assinada por Anatoli Felisberto de Sousa, Chefe da Comissão de Finanças do Comité.


À primeira vista, trata-se de um pedido simples. Mas, numa realidade onde o partido que governa também detém o poder institucional, esse pedido adquire o tom de pressão indireta — quase uma chantagem política.


Afinal, como pode um empresário local recusar uma exigência que vem do partido dominante e, ainda por cima, invocar o nome do Presidente da República ?


Celebração do Estado, organizada pelo Partido

O que está em causa é o cinquentenário da independência de Moçambique — um marco histórico, com orçamento público e valor simbólico nacional. Seria de esperar que a celebração fosse conduzida por instituições do Estado.


No entanto, o que vemos é o partido FRELIMO a assumir o protagonismo logístico e financeiro , concorrendo como se fosse uma extensão formal do Estado. A confusão entre Estado e partido, sempre presente, torna-se aqui visceral e institucionalizada.


A pergunta é feita: onde termina o partido e começa o Estado moçambicano? E mais grave ainda: existe mesmo essa separação?


Críticos falam em extorsão e uso abusivo do Presidente

As redes sociais e analistas políticos não tardaram a reagir. Muitos classificam o ato como uma forma de extorsão camuflada de patriotismo, em que se instrumentaliza a prestígio do Chefe de Estado para forçar contribuições privadas.


Além de questionável do ponto de vista legal, o gesto é eticamente reprovável : usar o nome de Daniel Chapo — que representa todos os moçambicanos — para exigir um pedido com claro interesse partidário , fere os princípios básicos de neutralidade institucional.


O aviso de Salomão Moyana ecoa com força

O jornalista veterano Salomão Moyana já havia alertado, anos atrás, sobre a cultura política de pressão sobre o setor privado. Segundo ele, os empresários são vistos como cofres ambulantes , obrigados a colaborar sempre que o partido no poder assim exige.


À época, muitos consideraram uma crítica exagerada. Mas com exemplos como este, a declaração de Moyana parece menos uma crítica e mais uma radiografia precisa do sistema político moçambicano .


Conclusão: Celebramos o quê, afinal?

Em teoria, celebramos a independência nacional. Na prática, ajudamos um partido político a cobrar “contribuições” em nome do Estado, misturando papéis e abusando de sua posição dominante.


Se a independência é motivo de orgulho, talvez seja também hora de refletir sobre o que ainda falta conquistar: a separação entre partido e Estado , e o direito de cada cidadão — empresário ou não — de não ser coagido a pagar por patriotismo forçado.