Escândalo SUSTENTA: PGR Cala Diante de Nyusi e Celso Correia em Sumiço de 80 Milhões



Programa criado para apoiar a agricultura familiar é agora epicentro de um dos maiores escândalos de gestão pública em Moçambique

A Procuradoria-Geral da República (PGR) não confirma nem desmente a alegada notificação do antigo Presidente Filipe Nyusi e do ex-Ministro da Agricultura Celso Correia , apontaram como figuras-chave num alegado desvio de cerca de 80 milhões de dólares do programa estatal SUSTENTA .


Apesar de a informação ter surgido inicialmente nas redes sociais, a Carta de Moçambique confirmou que os rumores já circularam entre membros da sociedade civil e sectores políticos interessados ​​nas investigações.


PGR evita resposta, mas não nega envolvimento

Durante a abertura do III Seminário sobre Cibercriminalidade , nesta quarta-feira (2), o porta-voz da PGR, Amâncio Zimba , foi confrontado por jornalistas sobre a suposta notificação de dois ex-dirigentes. A resposta, porém, foi evasiva.


"Tenho dificuldades em responder a esta questão, tendo em conta que o meu mandato aqui é para falar sobre o III Seminário sobre Cibercriminalidade. Acredito que, através do Gabinete de Comunicação e Imagem, essa informação poderá, em momento oportuno, ser confirmada ou não", declarou Zimba.


A recusa em comentar não dissipou as suspeitas – pelo contrário, reforçou a percepção de que algo de grave poderá estar em curso nos bastidores da justiça moçambicana.


80 milhões de dólares e um rastro de suspeitas

As informações que circulam apontam para o desaparecimento de cerca de 80 milhões de dólares destinados ao programa SUSTENTA . A sociedade civil já reagiu, com apelos públicos à abertura de uma investigação formal contra Celso Correia , acusado de deixar um legado de gestão prejudicial e criminosa durante a execução do programa.


A gravidade do caso ganha ainda mais peso por envolver recursos alocados com apoio do Banco Mundial , num programa vendido ao país como solução estruturante para o setor agrícola.


“SUSTENTA”: a promessa à desilusão

Lançado oficialmente em 2016, no primeiro mandato de Filipe Nyusi , o SUSTENTA foi concebido como um programa nacional para integrar a agricultura familiar nas cadeias de valor produtivo . Começou nas províncias da Zambézia e Nampula , expandindo-se para todo o território nacional a partir de 2019.


Apresentado por Celso Correia como um modelo de desenvolvimento rural de sucesso , o programa foi usado politicamente para promover a imagem do ex-ministro. No entanto, investigações jornalísticas e auditorias independentes pretendem revelar um retrato diferente.


Investigação revela desvio de fundos e retenção ilegal de impostos

Em 2023, uma investigação conjunta do Centro de Integridade Pública (CIP) e do Mídia Lab revelou que o SUSTENTA estava mergulhado em transgressões financeiras, conflitos de interesse e falta de transparência . Os dados contradiziam diretamente os discursos otimistas promovidos por Correia.


Um dos casos mais alarmantes envolve cerca de 30 consultores contratados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável (FNDS) , que terão retido ilegalmente cerca de 17 milhões de meticais em impostos devidos ao Estado. A ausência de prestação de contas deixou um vazio institucional crítico .


Celebração política ou símbolo de corrupção?

O escândalo levanta uma questão central: até onde a impunidade de dirigentes políticos pode ser tolerada em nome da estabilidade institucional? O caso SUSTENTA, que começou como uma promessa de inclusão rural, está a transformar-se num símbolo da má gestão de fundos públicos e da fragilidade dos mecanismos de controlo em Moçambique .


Conclusão: silêncio que fala alto

A ausência de uma posição clara da PGR coloca ainda mais pressão sobre as instituições da justiça moçambicana , num momento em que a opinião pública exige respostas concretas. Se Filipe Nyusi e Celso Correia forem factos notificados e responsabilizados, poderão ser um marco histórico no combate à corrupção de alto nível no país .