A recente visita do advogado e influenciador brasileiro Nelson Willians, acompanhado pelos irmãos da CLÉ, à Assembleia Nacional de Angola vai além da ostentação. Representa um sintoma da cultura do gigantismo e da megalomania incutida pelo MPLA, onde prédios espelhados escondem bairros sem saneamento, megaprojetos falham e o discurso de desenvolvimento não se reflete na vida da população.
Angola tornou-se um palco onde a elite insiste em apresentar uma imagem de potência continental, ignorando a realidade de um país longe de qualquer grandeza concreta. Com um IDH de 0,586, ocupa a posição 148 de 191 países, segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2023. Paradoxalmente, ostenta algumas das maiores infra-estruturas do continente, enquanto metade da população vive abaixo da linha da pobreza e a esperança média de vida é de apenas 61 anos.
Essa encenação de grandeza reflete-se também no comportamento da elite, que vê na ostentação um reflexo de status e poder. A chegada de Nelson Willians e dos irmãos da CLÉ numa frota de veículos milionários, incluindo um Rolls-Royce Cullinan, não foi apenas um ato de exibicionismo, mas um reflexo da cultura política do país, onde o poder se traduz num estilo de vida faustoso, desproporcional à realidade da maioria dos angolanos.
Desde 1975, o MPLA alimenta essa ilusão. Primeiro, com megaprojetos socialistas que colapsaram nos anos 90. Depois, com a euforia do petróleo, canalizando receitas bilionárias para projetos faraônicos agora em ruínas. A Cidade do Kilamba, vendida como um modelo de urbanização moderna, tornou-se um símbolo de fracasso: edifícios vazios, infra-estrutura degradada e falta de serviços essenciais. O Porto de Caio, em Cabinda, deveria ser um dos maiores da região, mas continua uma promessa incumprida.
A obsessão por ser “o maior” reflete-se também na política externa. O governo gasta milhões em alianças e patrocínios internacionais enquanto o sistema de saúde pública colapsa, universidades carecem de condições e a taxa de desemprego jovem atinge 57,5%, segundo o Banco Mundial.
Essa mentalidade permite que indivíduos ligados ao poder desfilem em carros de luxo num país onde 76% da população sobrevive na economia informal. A Assembleia Nacional, que deveria debater soluções reais, transforma-se num teatro político, onde a aparência importa mais do que a substância.
Os militantes do MPLA defendem essa realidade como progresso, mas ela reflete prioridades deturpadas. O verdadeiro desenvolvimento não se mede por monumentos ou frotas de carros de luxo, mas pela qualidade de vida, acesso a serviços básicos e oportunidades reais para a juventude.
A sociedade angolana precisa de questionar até quando permitirá que essa cultura de ilusão continue a ditar o rumo do país. O desenvolvimento não vem de castelos de areia, mas de estruturas sólidas, construídas sobre justiça social, transparência e responsabilidade. Se Angola quiser ser grande, deve abandonar a necessidade de parecer grande e focar-se em resolver os problemas que há décadas comprometem o seu futuro.
Angola e o Culto do Gigantismo: A Ilusão de Grandeza num País de Castelos de Areia
— 🆂🅰🅻🆄𝕏cogitatoris (@salumc) February 12, 2025
A recente visita do advogado e influenciador brasileiro Nelson Willians, acompanhado pelos irmãos da CLÉ, à Assembleia Nacional de Angola vai além da ostentação. Representa um sintoma da cultura… pic.twitter.com/tvdZGFNSyO
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