Pai, Tu Não Percebes, Eu Estou Apaixonado Por Uma Linda Mulher - Dylon Ventura



Era o Mateus que acabava de terminar o seu curso de Engenharia numa das Universidades da cidade de Maputo e, no ano seguinte, conseguiu o seu emprego numa das maiores empresas de telefonia móvel do país. 

Estudou, na altura, com grande sacrifício do seu pai, o senhor Paulo Sumbane, ex-director de uma empresa petrolífera, em Cabo Delgado. Dizia ele: “Meu filho, eu nos meus tempos não tinha nada disto que te estou a dar agora, aproveita e estuda para amanhã teres o teu também”. 

Eram palavras de um pai muito preocupado com o futuro do seu filho, talvez por ser filho único, que teve com muito sacrifício. Lembra-se, quase sempre, quando o atingiam no serviço: aquele gajo faz-se muito enquanto nem filho tem. Tanta riqueza para nada. Mas, graças a Deus, teve o Mateus. 

Mateus, nos primeiros dias de trabalho, dizia para o pai: 

- Pai, estou a gostar muito do meu trabalho. Tenho colegas que também me ajudam em algumas dificuldades que tenho enfrentado. Orgulhoso do filho, apenas dizia: 

- Força, filho. A vida é assim mesmo. Nos meus tempos também aprendi muito com os meus colegas. Se a tua mãe estivesse em vida, de certeza que também se sentiria orgulhosa de ti. 

Continuou com o seu trabalho e, quando recebeu o seu primeiro salário, comprou um grande presente para o seu pai. Era o seu único amigo, era a única pessoa com quem poderia contar, era ele, senhor Sumbane, o seu rei. 

Emocionado com o presente, agradeceu pelo carinho e desejou-lhe toda força do mundo. 

E é disso que ele precisava, de uma benção de um pai que olhava para ele como o filho obediente e humilde. Era o Mateus, o seu engenheiro. Mas ninguém podia imaginar que ele pudesse mudar, depois de ter conhecido a Mariana, a linda mulata que a conheceu numa dessas noites na discoteca. 

Dizia ele, com toda firmeza, quando a viu pela primeira vez, sem pensar duas vezes:

- Olá, fofa, não sou muito disso e não tenho muita prática. Vi-te a dançares, assim de longe, e interessei-me muito por ti e estou muito afim de te ter como minha mulher. Como te chamas?

Tudo aquilo para Mariana era novidade, pois de tantas noites lá frequentadas, ninguém antes tinha pedido algo sério, só a levavam para um passeio nos quartos das pensões ou em viaturas de altas cilindradas. 

Respondeu, Mariana, com um sorriso no rosto:

- Como ? Tu só podes estar a brincar. 

- Não, não estou a brincar. 

- Mas por que eu? 

- E por que não tu? 

- Oh! 

- Como te chamas? 

- Mariana, aqui. E tu? 

- Sou Mateus. 

Conversaram durante aquela noite, dançando ao som das melhores músicas moçambicanas e, bem embriagados, apenas a acompanhou para casa. Agiu como um homem totalmente diferente. Não se quis aproveitar da situação para transpirar com ela. 

- Muito obrigada! Agradeceu a Mariana. 

- De nada! 

Trocaram contactos e, assim, começava a maior aventura amorosa dos dois. O seu pai, apenas via sorrisos em casa, o telefone quase sempre no ouvido do filho. Já dava para perceber que o Mateus estava apaixonado até que decidiu contar para o seu amado pai. 

- Pai, eu estou apaixonado por uma linda mulher e, dentro em breve, se não for problema para ti, posso trazê-la aqui em casa para te apresentar. 

- Fico feliz, filho. As portas estão abertas. A tua felicidade é a minha felicidade também. 

Combinou-se, então, o dia da ida da Maira à casa do pai do Mateus. Elegante, maquiada, saltos altos, um vestido bem apertadinho, são as jovens atuais…entrou em casa do senhor Sumbane. E ele, velho que era, ainda conseguia avaliar as mulheres. Mas não quis falar muito. Apenas se limitou em ouvir as palavras do seu filho junto com a surpresa do dia. 

- Pai, esta é Mariana, a moça da qual te falei nos dias passados. 

- Oi, prazer. Senhor Sumbane, aqui. 

- Sim, o Mateus fala-me sempre de si. 

- Tu tens muita sorte de o ter como namorado. 

- O que é isso, pai. Respondeu o Mateus.

- Pai, sem querer juntar os assuntos, gostaria de poder informar que o senhor será avô. 

Senhor Sumbane, sem poder falar muita coisa, apenas engoliu o sapo, sem reconhecer o seu próprio filho…dentro de si lamentava (estes jovens de hoje…)

Passaram o dia e o Mateus acompanhou a sua namorada até à sua casa. Na sua volta, pediu alguns minutos com o seu pai só para poder o informar que já estava na hora de sair de lá e que queria tanto ter a sua liberdade. 

- Pai, todo pássaro quando cresce precisava de voar. E agora é o meu momento. 

- Mas filho, não achas que seja muito cedo? Já a engravidaste e achas que já a conheces?

- Pai eu tenho certeza, estou muito apaixonado por ela. Pai, tu não percebes, eu estou apaixonado por uma linda mulher. Tu não vais perceber, meu pai, com todo o respeito. 

E assim o Mateus saiu da casa do seu pai para poder viver com a Mariana numa casa arrendada, no coração da cidade. Era o casal duplo M, como já o tinham apelidado com os amigos. Viveram juntos numa das casas da cidade até nascer a filha Jéssica, a grande benção para um casal que tinha até um certo ponto objectivos em comum. 

Foi um grande dia, o senhor Sumabe não acreditou que acabava de se tornar avô. Era tanta emoção junto com os seus compadres. A Marina junto com o seu amado, Mateus, choravam também de tanta emoção. Era, na verdade, um momento único e só com a família se podia partilhar. 

Depois de alguns meses, vivendo e sentindo na pele o que é ser pai, o que muitos pensam que é só tirar foto e trocar fraldas, começavam com algumas brigas, algumas amigas da Marina, do  passado, não perdiam a oportunidade de poder contar tudo o que era novidade. E isso incomodava o Mateus e deixava mais esperta a Mariana. 

Algumas diziam, sem medir as suas palavras, com um tom de desprezo:

- Amiga, parabéns por seres mãe, mas o Mateus não te merece. Achas mesmo que o que ele recebe poderá ser suficiente para te deixar bonita e saírem daqui, onde já estão há dois anos? Lembras-te da Joana? Aquela nossa amiga? Conseguiu acertar um um tipo cheio de dinheiro e já tem a sua própria casa. Pensa amiga!

E, como as palavras têm poder, quase todos dias os dois discutiam por coisas que até podiam sentar e conversar. Mas parece que a Marina queria alguém que pudesse continuar a pagar muito bem como acontecia com a Joana…pobre mulher! E a filha? 

- Mateus, eu acho que não nasci para ser mãe. Sabes quantas gravidezes eu interrompi? Pensei que me pudesses fazer a mulher mais feliz do mundo, mas estou contigo há dois anos e não vejo nada de evolução. Ainda uso esta bombinha de IPhone XR, com uma câmera. Não é o tempo este. É melhor pararmos. Se quiseres ficar com a menina, podes levá-la. Conheci outra pessoa e não te quero mentir. 

Ninguém, no seu estado normal, teria coragem de dizer tudo isso. Era muita carga para um jovem tão calmo como o Mateus. Tentou conversar com os sogros, mas eles, sem muito a dizer, limitaram-se em responder: pensávamos que contigo ela pudesse ser diferente, filho, a Mariana parece não ter solução. 

Decepcionado com tudo o que tinha vivido, pegou a criança e voltou para casa do seu pai, com lágrimas no rosto: 

- Pai, desculpa-me por tudo. Desculpa-me mesmo por não te ter ouvido. De facto, era preciso conhecer a ela antes que me envolvesse tanto. 

- Não te preocupes, filho. Esta casa é tua também. As portas estarão sempre abertas. Tens a tua filha, que é o maior presente que Deus nos deu. Aprende-se com cada erro, filho. É assim a vida. 

Imagem ilustrativa retirada da Internet

Por: Dylon Ventura (Soldado Civil)