Não Deixem Didinho Caetano Crescer



A criança mais bela que o país tem chama-se Didinho Caetano. É bela pela forma como nos ensinou a sermos crianças, pela doçura com que vive a criança que nunca deixou de ser e por ser uma criança que nasceu, às escondidas, de todos os ventres das nossas mães e depois fugiu para se esconder no berço da televisão.


Didinho Caetano, a criança mais feliz que temos, a única criança que nos viu crescer sem nunca se deixar crescer. Continua criança, vai envelhecer criança, porque hoje aguarda pelos novos filhos e netos para diverti-los e vê-los crescer. Ele nunca crescerá, nasceu para ver as crianças crescendo.


Anos e anos e Didinho Caetano ainda continua a mesma criança. A mesma criança de ontem que nos ensinou que dançar e cantar são as coisas mais importantes na vida, a mesma criança que nos deu um adeus triste quando crescemos e deixámos de ver televisão. E como se nos dissesse: “eu continuarei aqui criança, cresçam vocês”.


Didinho Caetano é parte da infância que passámos, um objecto que guardamos na gaveta da nossa infância. Ele é inapagável como a marca de uma ferida que cicatrizámos na infância com areia. Ele é aquele sabor da infância que não passa, é como aquele fio de sangue que levávamos à boca quando nos feríssemos num tombo de bicicleta.


Quero, Didinho Caetano, pedir-te desculpas pelas vezes que apareceste, pela televisão, a casa dos meus pais, para brincarmos e eu ocupado em lavrar borbulhas na cara. Espero que entendas, eu já era adolescente e não podia mais brincar contigo porque tu continuavas criança. Pedir-te desculpas por ter crescido e não mais festejar contigo o 1 de Junho.


Hoje cresci e a cadeira, onde sentava-me para acompanhar os teus programas, hoje está o meu filho. Não contes a ele que fui uma criança indisciplinada e, por conta disso, diversas vezes, como castigo, fui proibido de ver os teus programas.


Sérgio Raimundo - Militar