Agentes Da PSP Vão A Julgamento No Caso Das Agressões A Cláudia Simões

 



Os agentes Carlos Canha, João Gouveia e Fernando Rodrigues vão a julgamento no caso dos episódios de agressões a Cláudia Simões


A juíza de instrução criminal do Tribunal da Amadora vai levar a julgamento os agentes da PSP Carlos Canha, João Gouveia e Fernando Rodrigues por suspeitas de agressões a Cláudia Simões, na noite de 19 de janeiro de 2020.


A informação avançada pelo "Público" foi confirmada ao Expresso por fonte do processo.


A magistrada validou a acusação do Ministério Público, que em setembro do ano passado tinha acusado Carlos Canha de três crimes de ofensa à integridade física qualificada, três de sequestro agravado e um de abuso de poder. Já os agentes João Gouveia e Fernando Rodrigues foram acusados de um crime de abuso de poder, por não terem feito nada para impedir as agressões a Cláudia Simões.


Tudo começou depois de um motorista da Vimeca alertar o agente da PSP Carlos Canha que a filha de Cláudia Simões viajava no autocarro sem título de transporte. A mulher foi então algemada e imobilizada junto à paragem de autocarros na Rua Elias Garcia, resistindo à detenção, tendo mordendo o agente. “Se não lhe mordesse a mão e o braço, morreria. Ele estava a sufocar-me. Não morri sabe Deus como”, declarou na um dia depois dos acontecimentos, ao Expresso.


Cláudia Simões alega que foi depois agredida durante a detenção num carro-patrulha da PSP e na esquadra da PSP, em Casal de S. Brás, na Amadora.


"No trajeto de cerca de 3 km entre a R. Elias Garcia e a esquadra do Casal de S. Brás, para onde foi conduzida, o arguido Carlos Canha, aproveitando-se do facto de a ofendida se encontrar algemada e na impossibilidade de resistir, logo que a viatura iniciou a marcha, disse-lhe “agora é que te vou mostrar, sua puta, sua preta do caralho, seu caralho, sua macaca”, isto enquanto lhe desferia vários socos na cara. Enquanto se tentava proteger, baixando a cara para não ser atingida, o arguido Carlos Canha dizia-lhe “estás a baixar a cara, caralho” e “ainda por cima esta puta é rija”, tendo à saída da viatura junto à esquadra o arguido Carlos Canha desferido um pontapé que a atingiu na testa. Os arguidos Fernando Rodrigues e João Gouveia nada fizeram que impedisse a continuação da agressão por parte do seu colega", pode ler-se na acusação.


O relatório médico do Hospital Amadora-Sintra é revelador quanto à extensão dos ferimentos com que Cláudia Simões deu entrada nas urgências: “Traumatismo cranioencefálico frontal e trauma facial com edema exacerbado generalizado, edema dos lábios, com feridas dispersas, trauma da pirâmide nasal (...). Apresenta face deformada por hematomas extensos em toda a face, principalmente na região frontal à esquerda, ferida traumática no lábio inferior e superior com pequena hemorragia ativa”.


Segundo a ficha clínica, a “utente [foi] encaminhada da sala de reanimação, onde recorreu acompanhada pelos bombeiros e pela polícia, após ter sido alegadamente vítima de agressão”. Em declarações ao Expresso, dois peritos forenses que analisaram o relatório dividem-se sobre o que pode ter provocado os ferimentos descritos. Um dos especialistas conclui que os hematomas foram, muito provavelmente, causados por um ato violento, nomeadamente murros nos lábios e nos olhos, sendo dificilmente compatíveis com uma queda, como alegou a PSP quando chamou os bombeiros da Amadora para socorrer a mulher, junto à esquadra do Casal de São Brás. Outro perito, no entanto, considera que o relatório não permite tirar conclusões, não podendo ser afastado nenhum dos cenários.