Já imaginou aquela comichão que chega a virar hábito e faz com que alguns recorram ao cotonete, tampa de caneta, palito de fósforo ou outro objecto para limpar o ouvido? Se você é um deles, saiba que isso pode lhe provocar danos sérios culminando com perda de audição ou alteração do estado de equilíbrio.
Para entender por que razão não é necessário limpar os ouvidos com recurso a esses objectos, primeiro precisamos entender porque razão temos cera nos nossos ouvidos.
Essa substância supostamente desagradável para alguns e, conhecida em linguagem médica como cerúmen, tem a finalidade de manter o canal auditivo externo protegido e seguro, segundo defende Fátima Faquirá, Médica Otorrinolaringologista do Hospital Central de Maputo - HCM).
A Especialista, começa por explicar que o ouvido é um órgão de audição e equilíbrio, anatomicamente dividido em três partes, nomeadamente, o ouvido externo, médio e interno.
Este órgão, segundo sublinha, por vezes pode ser acometido por várias patologias como infecções, inflamações, trauma entre outras que causam diferentes graus de desconforto e dor ao paciente.
Uma das complicações de acordo com Fátima, é a Otite que se traduz numa inflamação ou infecção do órgão que pode ser média, interna e externa.
Em função da idade, a Médica avança que pode-se ter a predominância de um tipo de otite em relação a outro, sendo que, na idade pediátrica verificam-se mais pacientes com otite média devido a aspectos anatómicos relacionados ao ouvido médio, que tem relação directa com a região da nasofaringe e Infecções das vias aéreas respiratórias altas.
Sendo as crianças mais propensas a contrair infecções respiratórias altas e devido a relação íntima existente entre as vias respiratórias altas com o ouvido, elas acabam sendo mais propensas em desenvolver inflamação do ouvido médio.
Em relação as otites externas, Fátima Faquirá explica que, são mais frequentes em climas quentes e húmidos. Embora não sejam exclusivas aos adultos, elas são mais frequentes neste grupo etário, devido, a exposição a temperaturas húmidas e manipulação do ouvido com recurso a cotonetes, tampa de caneta ou outros objectos, que podem culminar em microtraumas e posterior inflamação e infecção.
Quanto as otites médias, que têm uma relação directa com as Infecções das vias respiratórias superiores principalmente em crianças embora afectem também os adultos, a Otorrinolaringologista, sublinha que, tudo começa com uma inflamação ou infecção das vias aéreas superiores que evolui e afecta o canal que comunica a faringe com o ouvido médio, condicionando, por conseguinte, a ventilação do ouvido médio.
É aí, segundo explica, que começam a surgir os primeiros sintomas que consistem em dor no órgão, sensação de ouvido tapado, pouca percepção dos sons como se o ouvido estivesse abafado, podendo progredir para uma fase mais dolorosa que eventualmente pode perfurar a membrana do tímpano e começar a drenar uma secreção, que pode ser pus ou secreção serosa. Nesses casos, Fátima esclarece estar-se perante uma otite média aguda, que pode decorrer da infecção das vias aéreas superiores.
Outro tipo de otite elencada pela Médica, são as externas, que são mais comuns no verão, devido a humidade, uma vez que, as pessoas têm maior tendência de coçar os ouvidos com cotonetes ou outros objectos, o que pode provocar pequenas lesões, que constituem porta de entrada para bactérias, resultando em comichão, que evolui para dor intensa e posterior inflamação, acompanhado ou não de secreção amarelada, transparente e com mau cheiro.
Um facto a reter é que, as otites, podem dar desconfortos noutras áreas pois e, de acordo com a entrevistada, uma dor no ouvido, pode irradiar-se para a mandíbula e confundir-se com dor dente ou pescoço, devido as relações anatómicas existentes.
Fátima Faquirá, explica que o diagnostico das otites é feito através da história clínica do paciente e se necessários exames laboratoriais, para analisar e decidir sobre o tratamento mais adequado sendo que, em casos crónicos ou complicações, a cirurgia é uma opção a considerar.
Quanto aos cuidados a ter, a Médica refere que, nas crianças, existem factores predisponentes às infecções, como por exemplo, a exposição ao fumo do cigarro, frequência de escolinhas que pode resultar no aumento de números de Infecções das vias respiratórias superiores entre as crianças e factores genéticos. Outro factor de risco apontado pela Médica, é o desmame precoce e as malformações congénitas crânio faciais.
Em relação aos adultos, a Especialista chama atenção sobre a manipulação dos ouvidos pois, ao contrário do que se pensa, ao inserir algo no canal auditivo, corre-se o risco de perfurar o tímpano. Além disso, a remoção do cerúmen deixa o ouvido externo desprotegido, ressecado à mercê de agressões que causam a Otite.
A médica, recomenda que se limpe apenas o pavilhão auricular que é a parte externa da orelha, e que se evite colocar no canal auditivo externo, tampas de caneta, chaves, entre outros, porque esses objectos podem acarretar uma infecção do ouvido.
Finaliza desencorajando a automedicação e uso de remédios tradicionais pois, isso pode agravar ainda mais o problema, culminando com a perca parcial ou total da audição. (HCM-DCI)
JUNTOS POR UM HOSPITAL MELHOR
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