Morreu Anita Guerreiro aos 89 Anos: A Incontornável Fadista e Atriz de Marchas Populares e Teatro de Revista



Anita Guerreiro morreu este domingo, pouco depois da meia-noite, na Casa do Artista, em Lisboa. A notícia da morte da atriz e fadista de 89 anos foi confirmada pela instituição particular de solidariedade social nas redes sociais, onde a artista vivia desde 2018.


Segundo a agência Lusa, a morte ocorreu durante o sono. Contudo, ainda são desconhecidos os pormenores das exéquias, por se aguardar a chegada da filha da fadista, Pepita Cardinali, do estrangeiro.

"Partiu, esta noite, a incontornável Anita Guerreiro. Senhora de uma voz inconfundível e de um imenso talento, a todos marcou pelo amor que transmitia em cada palavra, em cada gesto. Sem vedetismos, conforme fazia questão de frisar, era inteira em palco, em frente aos ecrãs e no dia a dia de todos/as aqueles/as que com ela se cruzavam", lamentou a Casa do Artista, na rede social Instagram.

Nascida a 13 de novembro de 1936, em Lisboa, Bebiana Guerreiro Rocha Cardinalli "começou a cantar aos sete anos na coletividade Sport Clube do Intendente, dizendo, por isso, com graça, que era 'a miúda do Intendente'", complementou a nota.

"Em 1952 concorreu ao 'Tribunal da Canção', um passatempo radiofônico do programa 'Comboio das Seis e Meia', à época um enorme sucesso. Em 1955 estreou-se no palco do Teatro Maria Vitória, na revista 'Ó Zé aperta o laço', integrando seguidamente o elenco da revista 'Festa é Festa', levado à cena nesse mesmo ano. Seguiram-se dezenas de outras participações nesse género teatral, incluindo as grandes revistas do Coliseu dos Recreios como: 'Cidade Maravilhosa' (1955) e 'Fonte Luminosa' (1956)", recordou ainda.

A Casa do Artista fez notar que Anita Guerreiro "trabalhou durante anos em todos os Teatros do Parque Mayer (Teatro Maria Vitória, Teatro Variedades, Teatro Capitólio e Teatro ABC), onde somou sempre grandes êxitos enquanto atriz".

"Em paralelo com a sua carreira teatral, Anita Guerreiro tem também um prestigiante percurso no mundo do fado, com grandes êxitos como: 'Cheira Bem, Cheira a Lisboa', 'Sou Tua', 'Lição de Amor', 'Calçadinha Portuguesa', 'Festa é Festa', entre outros temas do seu vastíssimo repertório", acrescentou.

Anita Guerreiro foi, além disso, Madrinha das Marchas Populares de vários bairros lisboeta e, nos últimos anos da sua carreiro, fez parte do elenco de algumas telenovelas e séries portuguesas, entre elas "Vidas de Sal" (1996), "As Aventuras do Camilo" (1997), "Médicos de Família" (1998), "Casa da Saudade" (2000), "Olhos de Água" (2001), "Bons Vizinhos" (2002) e "Os Batanetes" (2004). E, até 2019, fez parte do elenco da casa de fados "O Faia", no Bairro Alto.

Quando assinalou 50 anos de carreira, em 2004, a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu-lhe a Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro.

"Vivia na Casa do Artista desde 2018, onde continuou a abrilhantar colegas, amigos e colaboradores com a sua voz de excelência e a sua enorme generosidade. Calou-se a voz, mas fica para sempre o legado desta grande Senhora da cena artística portuguesa. Descanse em paz, querida Anita Guerreiro", rematou o organismo.

"Peço muitas vezes: 'Deus, leva-me, mas não me faças sofrer'"

Em 2018, Anita Guerreiro confessou, em declarações ao Notícias ao Minuto, não sentir medo de morrer, uma vez que viveu "tudo o que tinha a viver".

"Tenho de ir algum dia. Já vivi tudo o que tinha a viver. Fiz de tudo: teatro, cinema, televisão", disse.

Considerou, além disso, que, se a sua vida fosse uma revista, chamar-se-ia "Que a sorte nos proteja".

Já em 2023, o apresentador Manuel Luís Goucha deslocou-se até à Casa do Artista, onde se encontrou com Anita Guerreiro, na altura com 86 anos. A propósito da morte, a fadista admitiu: "Peço muitas vezes: 'Deus, leva-me, mas não me faças sofrer'."