Uma história marcada por injustiça e descaso terminou de forma trágica em Santa Catarina. Damaris Vitória Kremer da Rosa, de 26 anos, morreu em 27 de outubro, vítima de um câncer de colo de útero descoberto quando ainda estava presa. A jovem havia sido absolvida apenas dois meses antes, após passar seis anos encarcerada por um crime que não cometeu.
Damaris foi presa em 2019, acusada de atrair Daniel Gomes Soveral para uma emboscada que resultou em sua morte, em Salto do Jacuí (RS). A denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) sustentava que ela teria ajudado o então namorado a cometer o homicídio. A defesa, no entanto, sempre afirmou que Damaris era inocente e que o crime ocorreu após ela relatar ter sido estuprada pela vítima.
Mesmo sem provas diretas contra a jovem, os pedidos de revogação da prisão preventiva foram negados. Durante o período em que permaneceu no presídio feminino de Rio Pardo, Damaris começou a apresentar sangramentos e dores intensas no baixo-ventre, sintomas que foram ignorados por meses. Segundo sua advogada, Rebeca Canabarro, ela foi levada diversas vezes ao hospital pela Brigada Militar e recebeu apenas medicamentos paliativos, sem uma investigação mais profunda sobre a causa das dores.
Em novembro de 2024, um laudo médico registrou uma “imagem indeterminada” no aparelho reprodutor, mas o caso não foi tratado como grave. A real gravidade da doença só foi descoberta em março de 2025, após um exame ginecológico externo revelar um câncer de colo de útero em estágio avançado.
Somente então a Justiça concedeu a Damaris o direito à prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica, para que pudesse iniciar o tratamento. Em abril, ela passou a morar com a mãe, em Balneário Arroio do Silva (SC), e foi submetida a sessões de quimioterapia e radioterapia. Em agosto de 2025, o Tribunal do Júri de Salto do Jacuí a absolveu de todas as acusações.
Dois meses depois, Damaris não resistiu às complicações da doença e foi sepultada no Cemitério Municipal de Araranguá (SC).
Em nota, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) afirmou que analisou três pedidos de soltura apresentados pela defesa — dois deles negados por falta de comprovação médica e o último, em março de 2025, acatado após o diagnóstico de câncer. O MPRS, por sua vez, declarou que a liberdade foi concedida “assim que a doença foi comprovada nos autos”.
A advogada da família critica o que chama de “negligência institucional”.
“Damaris foi punida duplamente: por um crime que não cometeu e por não receber o atendimento médico adequado enquanto estava presa”, disse Canabarro.

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