O que parecia ser um negócio claro, limpo e digno de elogios acabou por gerar grande polémica no país. A população moçambicana não acolheu com agrado a iniciativa do Governo de adquirir tractores para o transporte de pessoas.
Inicialmente, a TV Sucesso revelou que cada tractor estaria avaliado em cerca de 6,5 milhões de meticais. Nessa estimativa, a aquisição de 100 unidades custaria ao Estado pelo menos 650 milhões de meticais.
Porém, dias depois, o Governo convocou a imprensa para esclarecer que, afinal, pretende adquirir 400 tractores pelo valor total de 2,6 mil milhões de meticais, o que mantém o custo unitário nos mesmos 6,5 milhões de meticais.
O caso parecia prestes a cair no esquecimento, mas, na tarde de ontem, uma nova descoberta da TV Sucesso reacendeu o debate: afinal, um tractor no mercado local não custa sequer 6,5 milhões?
Para apurar a veracidade dos preços, a TV Sucesso recorreu a fontes do mercado. Constatou-se que um tractor da marca Mahindra custa, em média, 1,2 milhões de meticais, enquanto o respectivo atrelado varia entre 450 e 700 mil meticais. No total, cada conjunto (tractor + atrelado) não ultrapassa 1,9 milhões de meticais.
Com base nestes números, suspeita-se que pode ter havido subfaturação em larga escala.
Se o Governo pretende comprar 400 tractores com atrelados a 6,5 milhões cada, mas o mercado vende a menos de 2 milhões, existe uma diferença que pode chegar aos 4,6 milhões de meticais por unidade, e isso levanta suspeitas de má gestão ou sobrepreço, o que, no total, pode representar quase 1,8 mil milhões de meticais de diferença.
Mesmo considerando custos adicionais, como modificações técnicas, formação de operadores, licenciamento e homologação, os cálculos da TV Sucesso indicam que o preço total por unidade não ultrapassaria 2 milhões de meticais, mantendo-se bem abaixo dos valores anunciados pelo Governo.
A investigação da TV Sucesso apurou ainda que um dos modelos de tractor mais robustos, da marca Massey Ferguson, é comercializado no país por 1,9 milhões de meticais, o que o torna ainda 4,6 milhões mais barato por unidade em relação ao valor divulgado na aquisição governamental.
Para terminar, importa lembrar que 17 ministérios e 14 instituições públicas utilizam viaturas de luxo avaliadas em 248 milhões de meticais, equipadas com ar condicionado de última geração, enquanto o povo, o verdadeiro patrão, é deixado nos tractores da discórdia.
Reportagem: Coutinho Macanasse
Imagem: António Bahule
Texto: Elves Abel Mucachua
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