A província de Nampula volta a ser manchete não pelas suas potencialidades económicas ou culturais, mas pelo que parece ser um triste padrão na governação moçambicana: o nepotismo. Num sistema que deveria primar pela meritocracia e pelo serviço público desinteressado, assistimos à consolidação de uma teia familiar que se estende perigosamente pelos corredores
O mais recente caso envolve Salvador Talapa, nomeado administrador do distrito de Murrupula. A nomeação, por si só, já levanta sobrancelhas, mas o escândalo se intensifica quando se sabe que Talapa é esposo da Presidente da Assembleia da República, Margarida Talapa, segunda figura mais importante na hierarquia do Estado e figura-chave na fiscalização do Executivo.
Tomando posse sob o olhar cúmplice do Secretário de Estado de Nampula, Plácido Nerino Pereira, Talapa assume a liderança de um distrito com peso histórico e simbólico: Murrupula, terra natal de Armando Guebuza, antigo presidente da República. O gesto, feito sem escrúpulos nem disfarces, parece ser um sinal claro de que os compromissos feitos durante a posse do Presidente Daniel Chapo de combate ao nepotismo, amiguismo e outros vícios que minam o Estado já começam a perder.
É importante recordar que a Presidente da Assembleia da República tem, constitucionalmente, um papel fundamental na estabilidade democrática. É ela quem, em caso de vacatura, deve assumir interinamente a Presidência da República. Como confiar na imparcialidade e isenção de uma liderança cujo núcleo familiar está directamente a beneficiar de nomeações estratégicas?
O que se exige, portanto, é mais do que promessas. O país precisa de gestos corajosos, de transparência, e de um corte real com a cultura de “quem indica”. O Presidente Daniel Chapo tem agora um desafio maior: provar que o combate ao nepotismo não foi apenas uma frase bonita de discurso de investidura. Porque, se não o fizer, poderá tornar-se o guardião de mais um capítulo negro da história política moçambicana.
Lembre-se que em Nampula, também ocorreu mais um episódio que contrasta com o discurso inaugural do actual Presidente da República, Daniel Chapo, que afirmou que os Secretários de Estado ao nível provincial não deveria andar a fazer comícios, uma vez que esse papel é exclusivamente do Governador, eis que no passado dia 21 de Junho, o SdE na província de Nampula, Plácido Nerino Pereira, ofereceu-se para dirigir a cerimónia de transpasse de poderes ao novo administrador Emanuel José Impissa, irmão do Ministro Inocêncio Impissa, que dirige o Ministério da Administração Estatal e Função Pública e é porta-voz do Governo.
Entretanto, o acto está levantando sérios questionamentos sobre a usurpação de funções e o real papel dos Secretários de Estado nas províncias, uma vez que deve ser o Governador da província a dirigir o acto.
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