Juiz é Acusado de Usar Identidade Falsa e Enganar Autoridades por 40 Anos



O Ministério Público de São Paulo (MPSP) denunciou um ex-juiz por viver sob uma identidade falsa por mais de quatro décadas. José Eduardo Franco dos Reis, nascido em Águas da Prata (SP), construiu toda a sua trajetória acadêmica e profissional utilizando o nome fictício de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, uma identidade que remete a origens britânicas. A farsa teria começado ainda na juventude, quando ele ingressou na Faculdade de Direito da USP com documentos forjados.


A descoberta da fraude só veio à tona recentemente, após Reis tentar renovar seu Registro Geral (RG). O processo de renovação levantou suspeitas na Polícia Civil, que identificou inconsistências nos documentos e deu início às investigações. A partir daí, o Ministério Público reuniu provas que confirmariam que Edward, o “britânico”, era na verdade José Eduardo, paulista e sem qualquer relação com a realeza inglesa que dizia ter.


Durante sua carreira, o ex-juiz ocupou cargos de destaque no Judiciário paulista, sempre sob a identidade falsa. Em uma entrevista concedida em 1995, ele chegou a afirmar que era neto de nobres britânicos e descendente direto de lordes ingleses. A imagem construída ao longo dos anos passou despercebida por instituições de ensino, órgãos públicos e pelo próprio sistema judiciário, que não identificaram a fraude durante décadas.


Segundo o MPSP, a farsa foi sustentada com o uso de documentos falsificados, incluindo certidões de nascimento e outros registros civis. A promotoria solicitou o cancelamento imediato desses documentos e também pediu à Justiça a imposição de medidas cautelares, como a proibição de sair do país. O objetivo agora é responsabilizar o ex-magistrado criminalmente pela prática de falsidade ideológica, uso de documentos falsos e possíveis danos ao erário.


A complexidade do caso chama atenção não apenas pela longevidade da fraude, mas também pela facilidade com que o ex-juiz conseguiu burlar sistemas de controle. Autoridades investigam se houve participação ou omissão de terceiros ao longo desses anos e se outros atos judiciais assinados por ele podem ser questionados judicialmente no futuro. O caso tem causado grande repercussão nos bastidores do Judiciário paulista.


Até o momento, José Eduardo Franco dos Reis não se pronunciou oficialmente sobre as acusações. Ele segue em liberdade, mas sob investigação do Ministério Público, que promete aprofundar a apuração para entender como essa identidade falsa foi sustentada por tanto tempo. A expectativa é que novas revelações surjam nos próximos dias, conforme o inquérito avance.