Sara Santos: "A Morte Da Minha Filha Ajudou Ao Divórcio, Claro"



Sara Santos, de 39 anos, não se conforma com a morte da filha no parto, há cinco anos. Em entrevista exclusiva à revista 'Vidas', a apresentadora falou sobre o processo judicial que atravessa e admitiu que o casamento com o ex-jogador de futebol, Carlos André, acabou por não resistir a esta dor. 


Em 2018, perdeu a filha no parto depois de ter dado entrada no hospital de São Bernardo, em Setúbal, e apresentou uma queixa-crime contra o médico obstetra que a assistiu. Quase cinco anos depois, recebeu um despacho que diz ser o "espelho da justiça portuguesa". Pode explicar melhor?

Efetivamente, recebi um despacho vergonhoso. Neste processo já foram feitas duas perícias pedidas ao Instituto de Medicina Legal de Coimbra e ambas dizem o mesmo: o médico não cumpriu com a Leges Artis [regras da arte]. Não satisfeito com essas perícias, o hospital pediu uma terceira e o juiz aceitou. Este processo é sempre moroso e faz com que vá adiando uma data para o julgamento. Acaba por ser muito desgastante, porque aguardo há muito tempo. E, infelizmente, o pedido desta terceira perícia é o espelho da justiça portuguesa. A lei está feita para defender as elites, sendo que os médicos fazem parte delas.


Disse que este processo "é uma vergonha"...

É uma vergonha, porque embora um juiz não perceba de Medicina, já podia ter marcado o julgamento e ter peritos nesse dia. Poderiam estar presentes ou por videochamada. Ao invés disso, cada vez que é pedida uma perícia, o processo atrasa cerca de seis meses. É vergonhoso eu estar a aguardar julgamento ao final de cinco anos!


É verdade que um relatório revelou o desespero das enfermeiras?

Não existe um relatório que mencione desespero, mas no depoimento delas e nos relatórios médicos, é visível esse desespero. Elas tentaram fazer de tudo, mas o ego daquele médico falou sempre mais alto. Se fosse por aquelas enfermeiras, hoje a minha filha estaria viva. Elas sabiam perfeitamente o que fazer!


Sente que a tentam vencer pelo cansaço?

Óbvio, mas não vão ter sorte. Antes pelo contrário, só me vai dando mais força para falar e lutar pela justiça que a minha filha merece. O médico e o hospital não podem sair impunes.


O médico tem 75 anos. Teme que o processo se arraste?

Sim, temo que se possa arrastar, até porque o meu maior receio é que ele morra antes, isto porque não está a ficar mais novo. E seria muito fácil para ele se isso acontecesse. Quero que ele seja julgado.


Se o médico lhe aparecesse agora à frente, o que lhe diria?

Nunca ninguém me fez esta pergunta ao longo destes cinco anos. Não diria nada, mas esperava um pedido de desculpas. O médico tem noção do que fez, mas o ego não permite ter essa humildade. Tenho pena de ele não ter ido falar comigo depois do parto, até porque fiz uma cesariana e fiquei no hospital alguns dias. Teria sido diferente se ele tivesse falado comigo na altura.


Divorciou-se este ano. A morte da vossa filha acabou por pesar neste desfecho?

Sim, divorciei-me este ano e a morte da minha filha teve um grande impacto na nossa relação. A morte da minha filha ajudou ao divórcio, claro. Dediquei-me a este processo de noite e dia, ele começou a trabalhar ainda mais para ter a mente ocupada. Deixou de ter tempo para a família, férias, programas juntos. E com o passar do tempo, eu exigia mais atenção que não tinha. As discussões eram uma constante sobre o processo, a falta de tempo e o amor acabou por morrer! Foi a melhor decisão para nós.


Não há retorno?

Não há retorno possível. Já não existe amor. Neste momento, o que nos une é o processo da nossa filha...nada mais!


Uma decisão judicial poderia ajudar numa reconciliação?

Não, porque já não existe sentimento. No entanto, vai trazer-nos a paz que tanto precisamos e podermos fazer o luto, que ainda não está feito. A dor nunca vai passar, mas o tempo vai ajudando a atenuar.


Passando para a parte profissional: este processo também congelou a sua carreira?

Antes pelo contrário. Em julho de 2018, comecei a apresentar um programa na SIC, terminei a minha licenciatura em Comunicação Social e ainda fiz uma pós-graduação em Jornalismo e Multiplataforma. Continuo a trabalhar nesta área. Até porque é o que gosto de fazer e ajuda-me a ter a mente ocupada.


Ainda gostava de ter uma oportunidade como apresentadora num dos principais canais?

Sim. Seria hipócrita se dissesse que não. Mas gostaria de o fazer numa vertente diferente, mais no âmbito da informação e investigação. Este processo da minha filha deu-me uma grande bagagem para a investigação. Gostaria de ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo.


Quando o seu ex-marido foi contratado por um clube do Chipre, acompanhou-o e chegou a ser considerada a "mulher mais bonita do campeonato". Portugal nunca a reconheceu devidamente neste capítulo?


Verdade. Infelizmente, em Portugal nunca tive esse reconhecimento. Não só porque ganhei um título a nível internacional, mas também por outros trabalhos que fiz lá e foram premiados. Mas é o que é, na altura questionava o porquê, mas hoje já não ligo.


Quais os projetos em que está a trabalhar ou vai ter em mãos ainda no presente ano?

Estou a trabalhar como repórter e apresentadora. Tenho recebido propostas, que tenho aceitado e estou neste momento a trabalhar. E vou continuar assim nos próximos meses.


Tem 39 anos. Ainda era capaz de voltar a engravidar?

Gostava de voltar a engravidar, mas tenho um problema de saúde. Já sei que os meus bebés vão ser sempre prematuros, será uma gravidez de alto risco. E também já faço 40 anos este ano. Tenho algum receio, mas ainda assim, gostaria de arriscar.