Azagaia É Capaz De Tudo, Menos De Morrer…



Circula, desde ontem, mais uma mentira da verdade: dizem que o Azagaia morreu. E desde quando a morte é capaz de se aproximar a um Azagaia e dizer: “eu sou a morte, venho buscar-te para irmos ao céu”. Claro que Azagaia, se a morte tivesse essa coragem, perguntava logo com o microfone manejado: “e o povo já está no poder?”. E a morte, envergonhada, diria: “está certo, volto para fazer a minha parte quando o povo estiver no poder”.


Azagaia é capaz de tudo, menos de morrer. Se fosse capaz de morrer, teria morrido milhares de vezes quando assistiu ao seu povo sendo distribuído biberões de gás lacrimogéneo nas ruas e pequenos brinquedos de cápsulas de balas. Teria morrido de desgosto quando o povo, sentado à mesa chupando a sujidade das unhas, soube que tinha três refeições pela televisão.


Azagaia não morreu quando o custo de vida subiu, não morreu quando os senhores deputados aprovaram regalias de pobreza ao povo, não morreu quando os políticos apontaram-no o paiol inteiro de Malhazine e não morreu ontem, porque ele é capaz de tudo menos de morrer.


Azagaia é a vala que drena as nossas dores que o município não consegue construir, é o imposto da cidadania que o Estado não nos consegue dar, é o camião que colecta o lixo das nossas ilusões e esperanças enquanto o Estado cobra-nos a taxa de lixo. Azagaia é o buraco da estrada da nossa democracia que nem com o alcatrão de voto conseguimos tapar.


Não nos venham aqui com mais mentiras da verdade; Azagaia está vivo, Azagaia está na ponta da capulana da mamana que é enxotada como um cão pela polícia municipal, está no preço do chapa que amantiza às escondidas com o preço das portagens, Azagaia está nas notas do estudante sem padrinhos faz a universidade para ter um diploma e enfeitar a parede cheia de fissuras do quarto.


Claro que amanhã, veremos o Azagaia nas ruas farejando com o seu microfone o cheiro dos corruptos e levantando o punho fechado, porque um homem de punho levantado não cabe em nenhum caixão e é capaz de tudo, menos de morrer.


Sérgio Raimundo - Militar