Poucos, exactamente os que estão no poder, podem estar a abrir garrafas de champanhe pela tua morte, mano Azagaia. Mas tu nunca os provocaste. Colocaste o dedo onde a ferida dói. Pisaste-lhes os calos aos chama-los à razão. E tu não usavas eufemismos. Dizias directamente. Para ti as palavras tinham de brotar com a mesma carga semântica que lhes caracteriza. Se era ladrão, tu dizias directamente “ladrão”. “Filho da puta”. “Explorador do povo”. “Bandido”. “Sanguessuga”…
Quem vai ficar a dizer tudo isto, mano Azagaia? O Mr. Bow? O Mc Roger? A Liloca? O…? Esses foram engolidos pelo partido do poder. Cantam para o Presidente e a sua família. Mas tu, tu cantavas para o povo. Tu dizias o que o povo queria ouvir. Tu consolavas o povo. Tu eras amigo do povo. Tu eras povo!
Dói saber que não te veremos mais cantar, despreocupado. Mas fica o consolo de te ter tido entre nós. Cumpriste, sem reservas, a tua missão. Tu foste um grande poeta, Azagaia. O poeta do povo. O apóstolo do povo. Jamais mendigaste nada aos que estão no poder. Nunca cantaste para lhes agradar em troca de um prato de comida, como tantos que se dizem artistas. Tu foste tu. Azagaia és tu e mais ninguém.
Abençoado o ventre que te nasceu. Vá em paz, mano. Cumpriste a tua missão aqui na terra. A tua voz, podes ter certeza, continuará a ecoar por anos a fio.
Foste exemplo de um disciplinado gladiador nesta arena que se chama Moçambique. Mandaste um manguito aos que mereciam de verdade. E nós, nesta hora de adeus, te vamos ajudar, mano: filhos da puta dos ladrões que roubam, inescrupulosamente, o povo.
Vá em paz, mano, combateste o melhor combate!
Justiça Nacional
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