O funeral da adolescente morta a tiro, no sábado, em Cafunfo, por um militar angolano, foi hoje interrompido por um incidente protagonizado por populares revoltados, que levaram o caixão a urna até à esquadra, relataram testemunhas.
Segundo o irmão da vítima, André Lourenço, "tudo estava preparado para fazer o enterro" quando, no local do óbito, alguns populares resolveram pegar no caixão e levaram-no até à esquadra local para expressar a sua revolta.
"Entretanto regressaram, mas estão a circular com o caixão", adiantou André Lourenço à agência Lusa, sublinhando que a família nada tem a ver com este incidente.
Santa Manuel, de 14 anos, foi morta o tiro quando alegadamente circulava sem máscara numa rua daquela vila mineira, na província angolana da Lunda Norte, versão rejeitada pela família, segundo a qual o militar, autor do disparo, estava fora de serviço e embriagado.
Em declarações hoje à Lusa, o irmão de Santa Manuel lamentou que a situação tenha ficado "fora de controlo" e sublinhou que o apoio da polícia era importante para manter a ordem: "Nós, a família, já estávamos com bom senso e só queríamos fazer o enterro da minha irmã, mas vieram as pessoas revoltadas, puseram o caixão na cabeça e levaram".
No local do óbito, estavam presentes o administrador do Cuango, município ao qual pertence Cafunfo, e o comandante da polícia local, bem como o porta-voz do Ministério do Interior naquela província, Zeca Rodrigues, que testemunhou a exaltação dos ânimos.
"Neste momento, a situação está calma e controlada. Infelizmente, um grupo de pessoas removeram a urna quando o carro funerário se dirigia para o cemitério e gerou-se alguma confusão", disse à Lusa Zeca Rodrigues.
O mesmo responsável lamentou os acontecimentos, salientando que as autoridades presentes, em solidariedade com a família, tinham trazido bens para distribuir, mas, "devido à confusão" não foi possível fazer a entrega.
"Para isso, os familiares teriam de estar calmos, mas com aquela agitação toda era difícil", disse.
O ambiente tenso levou o administrador do município e os representantes da polícia a retirarem-se do local porque "não havia condições para ficarem", acrescentou.
"Tão logo os ânimos se acalmem, acredito que será feita a entrega", afirmou Zeca Rodrigues, adiantando que não houve detenções e que ninguém ficou ferido nos incidentes.
André Lourenço disse que parte da família acompanhou as movimentações do grupo que transporta o caixão, enquanto outros familiares permaneceram no local do óbito.
Cafunfo é palco frequente de incidentes violentos envolvendo elementos das autoridades que acabam em morte.
No final de janeiro, um confronto entre populares, alegadamente pertencentes ao Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe e a polícia provocou um número indeterminado de mortes, estimadas em seis pela polícia e mais de 20 por membros da sociedade civil local.
Mais recentemente, em abril, dois garimpeiros foram mortos a tiro por seguranças na mina de diamantes do Cuango.
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